Alguns filmes tornam a atividade do crítico um tanto complicada. Um texto é sempre produto de um encontro com a obra, que pode gerar uma série de sensações, emocionais ou intelectuais, que procuro traduzir nos textos. Contudo, existem certas produções que, simplesmente, “não batem”, e passam sem deixar grande impressões, sejam elas negativas ou positivas. O drama espanhol Redenção se enquadra nesse caso, transformando um interessante capítulo da história política espanhola em um conto morno.
A produção conduzida por Icíar Bollaín tem seu foco em Maixabel Lasa (Blanca Portillo), política e ativista cujo marido, José María Jáuregui, foi assassinado pelo ETA, grupo nacionalista basco que se valia da violência para alcançar seus objetivos. Ibon (Luis Tosar) foi um dos participantes do atentado, e anos mais tarde, após romper com o ETA, se encontra com Maixabel, situação que deixa os familiares e amigos da viúva consternados.
Essa é uma sinopse oficial do filme, contudo, esse encontro demora a acontecer. Redenção trata o momento do encontro entre Maixabel com Ibon como o destino, não jornada. Até chegar lá, a narrativa se preocupa em oferecer um contexto geral da vida de ambos, com Maixabel lidando com o luto e o prosseguimento de suas atividades políticas, e Ibon na prisão, encontrando antigos companheiros e repensando sua vida.
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Inicialmente, o paralelismo entre as duas figuras gera certa tensão. O longa abre sem dar muitos detalhes sobre o que está prestes a acontecer, mostrando a preparação de Ibon e seus comparsas, enquanto Maixabel e familia seguem sua rotina normalmente, alheios ao que está prestes a acontecer. Após o atentado, o filme aposta em uma série de elipses temporais resumindo acontecimentos importantes, como o julgamento de Ibon, sua saída do grupo.
Essas elipses tornam Redenção ágil, mas também retiram o impacto dramático de certos momentos. A decisão de Maixabel de encontrar os responsáveis pelo assassinato de seu marido gera conflitos com pessoas próximas, algo pouco pontuado pela narrativa de modo expressivo, assim como a relação de Ibon com antigos parceiros do ETA. A produção parece adotar a estrutura de bullet points, colocando em cena somente o bastante para entender a situação e seguir em frente.
Assim, o resultado é tépido, pois não aprofunda sua trama, baseada num evento complexo e fascinante. Como disse no início desse texto, é um filme que simplesmente acontece, sem suscitar grandes emoções ou impressões.