ENTREVISTA: “A literatura é uma poderosa ferramenta de denúcia”, diz Teresa Cárdenas

“Ao projetar sua memória individual através da literatura, é possível engrandecer a memória coletiva que nos pertence”, declara a escritora cubana Teresa Cárdenas em entrevista à jornalista @paulaccarvalho_ para o Jornal Nota.

“Cada história escrita, motivada pela sua própria experiência, pode refletir outras vivências. Não é apenas sua voz que é escutada, mas também outras que falam junto. A literatura permite estabelecer esse vínculo, potencializa essa conexão.”

Ainda disse que a literatura é uma “ferramenta reivindicatória poderosa”, pois é por meio dela que se pode “denunciar, reclamar e combater. “Posso levantar minha voz e ser escutada. A literatura em ajudar a apresentar essas e outras historias que estão esperando para sair do silêncio para serem contadas.”

Leia também: “Meu avô Tatanene”: Teresa Cárdenas, a carregadora de histórias

Cárdenas é uma das autoras mais importantes da ilha centro-americana, em especial para a literatura voltada para crianças e jovens. Ela ministrará a atividade A Memória Fala – Oficina de Textos Literários para o Instituto Estação das Letras, ao vivo e pelo Zoom, de 30 de julho a 2 de agosto, de terça a sexta-feira, das 19h às 21h.

A autora de “Cartas para minha mãe” (Pallas, 2020, tradução de Eliana Aguiar) revelou estar “emocionada” e com “borboletas na barriga” para realizar essa atividade. “Sou apaixonada pela relação de cumplicidade que se estabelece entre os amantes das histórias e o ato, por vezes angustiante, por vezes exuberante, de escrever. Não é a primeira vez que trabalho com meus colegas da Estação das Letras e seu maravilhoso time. Conheço bem o esforço deles em abraçar a literatura, os autores e todos que leem ou sonham em escrever”, explicou.

Nessa oficina, a escritora mostrará como trabalhar com historias difíceis em diversos géneros da literatura, a partir de trechos de “Awon Baba” (Pallas, 2022, tradução de Josane Silva) e “Cachorro Velho” (Pallas, 2020, tradução de Joana Angélica d’Avila Melo), ambos de sua autoría.

A primeira obra, cujo título é uma expressão em iorubá que significa “os antepassados”, reúne doze contos narrados por personagens escravizadas em Cuba. Já o segundo livro, ganhador do premio Casa de las Américas, um dos prêmios mais importantes da língua espanhola, segue o personagem-título, um escravizado idoso que começa a pensar sobre a ideia de liberdade.

As duas obras foram escolhidas por tratar justamente de histórias ligadas à escravidão, que são difíceis de serem contadas, mas necessárias pela sua importância na memória individual e coletiva para a formação das Américas.

Com “Awon baba”, ela pretende revelar seu processo criativo, introduzindo-os em um mundo que parece caótico e rebelde, mas que segue regras próprias, ao “desmembrar essas histórias, analizando-as por dentro, descobrindo os gatilhos, os ossos da estrutura narrativa, a verdadeira voz das personagens através da palavra escrita”.

“Tanto ‘Awon baba’ quanto ‘Cachorro Velho’ são livros cheios de memórias, próprias e coletivas. Eles têm histórias fortes, violentas e também inspiradoras”, reflete.

“Dizem que quem ensina aprende duas vezes. Espero também aprender e redescobrir outros ângulos do ofício de escrever e das técnicas narrativas.”

As inscrições para a oficina podem ser realizadas pelo e-mail iel@estacaodasletras.com.br. A programação do mês de agosto do Instituto Estação das Letras já está disponível, oferecendo cursos pagos com nomes como Léo Cunha e Elias Fajardo, entre outras atividades gratuitas.

Related posts

“Poesia Reunida” de Maria Lúcia Alvim retrata poética da autora durante quase seis décadas

“ENTRENUVENS”, de Priscila Topdjian: estesia no avesso da tapecaria de penélope

Escritora Fabiana Grieco lança livro de poesia sobre maternidade na Bienal do Livro de São Paulo