“Bunny”, de Mona Awad: o horror sucesso do Tiktok e suas referências à cultura pop

Publicado originalmente em 2019, “Bunny” foi sucesso lá fora, tendo ficado famoso no TikTok devido a diversas resenhas em vídeo de influenciadores da rede, e chegou no Brasil este ano, pela editora Globo livros. Escrito por Mona Awad, autora canadense, premiada com o Amazon.ca First Novel Award em 2016 pelo seu livro de estreia chamado “13 Ways of Looking at a Fat Girl”, o romance “Bunny” tem uma prosa envolvente, repleta de horror e referências originais à cultura pop.

A narrativa, em primeira pessoa, nos apresenta o mundo de uma estudante de pós-graduação chamada Samantha, que entrou em uma conceituada universidade através de bolsa de estudos, e sente-se deslocada em meio às suas colegas ricas e patricinhas. Samantha tem apenas uma amiga, Ava, que conhecera no campus, mas não é colega de curso.

Enquanto Samatha e sua melhor amiga Ava são mais simples, de origem humilde, as colegas de Samantha na disciplina de workshop de escrita criativa são garotas ricas e de personalidades excêntricas e gostos sofisticados. As quatro jovens chamam umas as outras de “bunnies” (coelhinhas), e agem de forma quase infantil entre elas, com elogios forçados, e a princípio são frias com Samantha, como se a esnobassem por ser a aluna bolsista, de origem mais humilde.

A atmosfera lembra muito filmes como “Mean Girls” (Meninas Malvadas), pois as bunnies têm uma líder, a qual Samantha apelida de “duquesa”, pois as demais garotas a tratam como realeza. Os apelidos que Samantha dá às bunnies (chamando-as assim apenas em pensamento, pois, ao falar com elas, sempre chama pelo nome, ou de “bunny”) são simplesmente hilários: temos, além da duquesa, a Creepy Doll (boneca assustadora), uma patricinha mais gótica, e Cupcake, cujo estilo e forma de agir são forçadamente doces como um cupcake.

Samantha passava boa parte do tempo matando aulas e procrastinando a escrita de sua tese enquanto bebia e fumava com sua amiga Ava. Até que, de repente, Ava é convidada para as bunnies para uma noite na casa de uma delas. Apesar de sentir-se culpada por deixar a companhia de Ava, Samantha aceita o convite das bunnies. A reunião é uma espécie de ritual, em que as garotas tomam drinks criados por elas e lêem seus textos.

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Atração mortal

Porém, Samantha segue sendo convidada a andar com elas e participar de seus misteriosos rituais, os quais deixam de ser meramente literários para se tornarem verdadeiras cenas de horror dignas de cultos satânicos, remetendo-nos a outros clássicos do cinema adolescente com foco em rivalidade feminina, como “Heathers” (Atração Mortal) e “The Craft” (Jovens Bruxas), pois, apesar da forma aparentemente afetuosa como passam a tratar Samantha, elas seguem tendo um ar esnobe e a menosprezam quando a mesma não consegue concluir o feito em determinado ritual.

As relações da protagonista com as bunnies, bem como com outros personagens, se desenvolvem de formas distintas: sua relação com as bunnies chega ao clímax de, em um capítulo, elas falarem delas mesmas em segunda pessoa do plural, como se todas pensassem juntas, Samantha e as bunnies, o que funciona como uma forte crítica a jovens que deixam de pensar por si para integrarem determinado grupo ou parte da sociedade. Já a relação de Samantha com Ava evolui de uma amizade aparentemente segura para algo inesperado, visto que a existência de todos em torno de Samantha torna-se questionável.

Conforme a narrativa se aproxima do final, começamos a duvidar se os elementos sobrenaturais realmente fizeram parte do mundo fictício da obra ou se são alucinações da protagonista, pois tudo ao seu redor se distorce, incluindo pessoas e lugares, forçando-nos a refletir sobre os conceitos de realidade, ficção e imaginação, bem como o lugar da literatura em tudo isso. Uma obra imaginativa, irreverente e original, o livro é claramente um fruto icônico da cultura dos anos 2000.

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