“Movimentos de solo”: artistas mulheres se reúnem em festival para apresentar peças teatrais

É notável que nos últimos tempos muitos solos femininos têm aparecido na cena carioca e em outras partes do Brasil. Seja pelas dificuldades de realização de trabalhos em grupos maiores ou pelo desejo de se colocar em cena com suas próprias ideias de teatro, dando ênfase à linguagem singular de suas poéticas, muitas mulheres têm tomado para si a responsabilidade de compartilhar suas pesquisas mais autorais ao se colocarem sozinhas em cena, com o apoio de seus grupos e equipes. Você já conhece o “Movimentos de solo”?

As mulheres reunidas neste projeto tiveram a iniciativa de juntar forças para abrir um espaço coletivo na programação do verão carioca para que elas possam mostrar os seus trabalhos e assistir umas às outras, articulando conversas, promovendo oficinas e compartilhamentos de processos, com um esforço mútuo de realização e divulgação destes espetáculos que podem convocar espectadores e espectadoras diversas com a pluralidade das linguagens que reúnem. 

Ocupando o Teatro Domingos Oliveira de 11 de janeiro a 4 de fevereiro de 2024, elas apresentam seus solos de quinta a domingo, com apresentações às 17h e às 20h. O público pode assistir duas peças diferentes no mesmo dia e aproveitar o desconto para quem comprar ingressos para mais de 5 peças com antecedência!

Veja a programação completa aqui:

Ubirajara, uma cantoria

11, 12 e 18 de janeiro – 20h

Ubirajara, uma cantoria nasce a partir das cantorias na janela do prédio onde Soraya Ravenle mora, em Botafogo, no Rio de Janeiro, durante a pandemia e o pandemônio. Foram muitas “Janelanças”, que se deram como rituais de compartilhamento e cumplicidade entre os vizinhos, que se estenderam para a quadra e depois para espaços cênicos. Em Tupy, Ubirajara significa senhor da vara, senhor da lança. Traz um sentido de coragem, luta, enfrentamento, desejo de lançar outras possibilidades de existirmos hoje, aqui, agora. Assim é também com o repertório musical escolhido, que cria uma dramaturgia nessa direção.

Acesse aqui a página do espetáculo.

Próteses de proteção (Apresentação de processo)

12 de janeiro – 17h

Vencedor do prêmio de textos ensaísticos do Instituto Moreira Salles e publicado na Revista Serrote em 2020, o texto da atriz e escritora Maria Lucas mescla histórias pessoais e teorias de gênero. A artista põe em cena uma leitura com suas considerações alguns anos após o texto ser escrito e publicado. A obra se inicia durante a pandemia, com esta mulher indo buscar seu auxílio emergencial e sendo assediada por um homem no caminho. Ela tira a máscara para chorar e gritar. Com as lágrimas, cai um dos seus cílios. Maria se abaixa para apanhar o cílio no chão e se dá conta de que ali, naquele solo do centro do Rio de Janeiro, muitas outras travestis sobrevivem a imensas transfobias diárias. 

Pipas

13 e 14 de janeiro – 17h

Pipas acompanha a personagem fictícia Cláudia, mulher periférica que vive as alegrias e amarguras da vida na favela, ao lidar com situações que colocam em xeque seus direitos como mulher. Baseada em histórias reais, de figuras femininas que inspiram a comunidade do Complexo do Alemão, a trama revive a trajetória da protagonista, partindo do momento em que ela tem todas as suas perspectivas e sonhos frustrados por uma gravidez indesejada, aos 15 anos de idade.

Acesse aqui a página do espetáculo.

Dança Macabra

13 e 14 de janeiro – 20h

Um cubo que se mexe sozinho, uma mulher que desaparece, ou o pássaro negro da bruxa que agora anda solto pelo mundo, sem ter mais um ombro onde pousar. Dança macabra é uma performance solo criada a partir de reflexões acerca das representações do macabro, da morte e da sobrevivência – um processo de investigação de diferentes formas de resistência e expressão frente à morte ou à mortificação de algo. Onde reside o morto? O espaço é experimentado como um espaço de tensão, entre o que se apresenta e o que resiste a se dar a ver.

Disco-inferno (Apresentação de processo)

19 de janeiro – 17h

Disco-inferno é uma obra em processo. A filha testemunha sem qualquer autocomiseração o degradar da mãe com Alzheimer. Tempos distintos, diferentes vozes, constroem o encontro com o que se perdeu, uma versão dela, várias versões delas. A curiosa mistura de uma doença degenerativa com um ambiente charmoso e pop de discotecas dos anos 80, matinês de carnaval cariocas e piscinas dos subúrbios classe média de Los Angeles. Uma escrita por ora dialógica, pontuada com humor, ensaística por vezes, sobre esse apagamento, Disco-Inferno expõe o que resta debaixo do verniz civilizatório quando as memórias que nos constituem se esfacelam.

Crime e Castigo 11:45

19, 20 e 21 de janeiro – 20h

Através de um diálogo direto com o público, a dramaturgia narra e encena duas trajetórias que correm em paralelo, dois encontros: o de Sônia e Raskólnikov, personagens da obra Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, e o de Liliane Rovaris com o livro, durante um período de luto pela recente perda de seus pais.

O museu sem fim de 1976 (Sala 1: uma erótica da crítica)

20 e 21 de janeiro – 17h

Uma visita guiada a um museu imaginário em que se encontram obras de arte e pensamento crítico criadas por mulheres em 1976. Ao falar dessas obras, Daniele Avila Small compartilha com o público a experiência de olhar para obras de arte com uma perspectiva crítica. O mapa astral da artista dá as cartas da curadoria deste museu, trazendo a astrologia para a cena como uma lente criativa, que oferece um repertório imagético e narrativo inusitado para a abordagem das artes, da história e das narrativas de si.
Acesse aqui a página do espetáculo.

Carangueja

25 e 26 de janeiro – 20h

Uma mulher, que não sabemos bem de onde nem de que tempo vem, é atravessada por múltiplas vozes que ouvimos como se estivéssemos dentro de sua cabeça. As vozes falam de diferentes formas através do corpo da mulher e vão desenhando pistas do que está acontecendo. Uma espécie de metamorfose vai se dando ao longo da ação, levando essa mulher a viver num limiar entre humano e crustáceo, entre mulher e carangueja. CARANGUEJA é um canto de amor ao manguezal, lugar onde as águas dos rios encontram as águas do mar, berço de diversas espécies de plantas e animais, lugar de vida, de proliferação de vida.

Elegbará (Apresentação de processo: vídeo + conversa)

26 de janeiro – 17h

Elegbará é Exu. Exu é movimento, caminho aberto e troca. Tudo o que nasce, cresce e se reproduz é Elegbará. Elegbará é o movimento da vida.

Terceiro corpo

27 e 28 de janeiro – 17h

“Terceiro Corpo” é um solo inspirado na personagem Moema do clássico da literatura invasora “Caramuru: Poema épico do descobrimento da Bahia”, de Santa Rita Durão. Moema era o nome da minha avó, é o nome da minha mãe e quase foi meu nome também. Moema é considerada como símbolo de uma mulher heróica, destemida e persistente ao nadar até a morte em direção à caravela do seu amado Caramuru enquanto ele partia de volta a Portugal levando consigo sua irmã Paraguaçu, com quem também mantinha relações amorosas. Tal narrativa é abordada como se Moema tivesse nadado até a morte pelo amor não correspondido de Caramuru. E se Moema morreu afogada nadando em busca da sua irmã que estava sendo levada para outro continente e não pelo amor romântico ao homem branco europeu?

Lótus

27 e 28 de janeiro – 20h

Lótus é um espetáculo que tem como ponto de partida a poética feminina. É sobre mulheres que desejamos falar, em especial sobre a realidade afetiva das mulheres negras: solidões e solitudes. A peça trata de amor, superação, beleza e vida, isto dentro de um contexto de hipersexualização dos corpos femininos. O monólogo é um convite para refletir e ressignificar o olhar sobre a sacralidade feminina e masculina dentro das relações afetivas. A atriz performa, canta, dança e dá vida às personagens que contam os caminhos que as mulheres encontram para resistir e (re)existir dentro de uma sociedade patriarcal.

Leia também: “Feio”: espetáculo teatral da Cia Dobra inventa distopia em que o feio existe, mas desaparece

Mais de três no cômodo (Apresentação de processo: vídeo + conversa)

1º de fevereiro – 17h

Japeri, município periférico do Estado do Rio de Janeiro, é, segundo dados da Casa Fluminense, a cidade da região metropolitana que tem a maior concentração de pessoas que dividem o mesmo cômodo/dormitório: mais de três pessoas dormem no mesmo quarto. A partir destes dados, procura-se construir em cena uma narrativa-performance onde investiga-se as construções afetivas a partir de um território-cômodo-corpo aglomerado.

Reencarnação ao vivo

01º, 2 e 3 de fevereiro – 20h

“Reencarnação ao vivo” é uma palestra-performance em que Larissa Siqueira articula os conceitos de “aparição” e “reencarnação”. A peça reflete sobre as nossas possibilidades de rearranjar os eventos da vida a partir de nossas experiências estéticas, investigando a potência que a arte tem de nos fazer “reencarnar” sem morrer. Obras de diferentes áreas das artes se relacionam com eventos autobiográficos da atriz, como as estranhas tradições musicais de sua família, o lugar onde ela esperava o ônibus da escola, o Motel em que morou com a família e os desejos mais secretos de Manoelzinho, a primeira travesti em sua vida.

Acesse aqui a página do espetáculo.

Não aperto (um processo de cura) (Apresentação de processo)

2 de fevereiro – 17h

Devaneio de um possível solo sobre a Dra Nise da Silveira e a revolução de seu tratamento mental no Brasil através da arte.

DeCor

3 e 4 de fevereiro – 17h

A questão da memória inscrita no meu corpo e  as relações da minha identidade na dança, na cena e no movimento  me  permitiram  brincar com o espaço e o tempo e fazer  dessa  dança  um jogo de imaginação . Em alguns momentos transformando o espectador em parceiro e em outros convidando  para um  olhar de contemplação, imagens e pensamentos.

Ninguém sabe meu nome

4 de fevereiro – 20h

Iara é mãe de Menino, uma criança preta. A partir de um pesadelo com o possível desaparecimento de Menino, Iara começa por questionar sua própria existência e qual o papel de uma mãe preta na nossa sociedade: educar seu filho pra que se desenvolva em um indivíduo que contribua com a sociedade ou despí-lo em tenra idade de sua inocência de modo a prepará-lo para o enfretamento de uma sociedade que não o reconhece como igual. Em uma conversa íntima com o público, Iara discorre sobre suas principais angústias, medos e esperanças.

Quer saber mais? Confira a programação completa aqui!

 

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