“Homens ao Sol” e “Umm Saad”: Ghassan Kanafani e a literatura palestina ganham força no Brasil

Editora Tabla, dedicada a literatura árabe, traz coleção de novelas de Ghassan Kanafani sobre a luta e a resistência palestina

Ghassan Kanafani, pioneiro da literatura de resistência palestina e responsável por consolidar a literatura moderna do país, chega ao Brasil com traduções diretamente do árabe em publicações da editora Tabla. A editora, que já tem publicado um livro infantil escrito e ilustrado pelo autor – O Pequeno Lampião, lança agora duas de suas novelas, marcos na literatura palestina: Homens ao sol e Umm Saad.

Homens ao sol, que teve tradução da professora Safa Jubran, é a primeira novela de Kanafani (de 1963) e conta a história de três homens que, diante do desterro, buscam um contrabandista que possa ajudá-los a atravessar as fronteiras e o deserto até o Kuwait, onde tentarão uma nova vida, longe da terra ocupada. A trama retrata a vida destes três palestinos afetados pela Nakba de 1948 — quando centenas de milhares de palestinos foram mortos ou expropriados de suas terras, casas, bens, e obrigados a buscar refúgio em terras dentro da Palestina e fora dela. 

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Nos últimos dez anos, você não fez nada além de esperar. Você precisou de dez longos anos de fome para se convencer de que tinha perdido suas oliveiras, sua casa, sua juventude e toda a sua aldeia

Já Umm Saad, que teve tradução do poeta Michel Sleiman, é a terceira novela do autor palestino (de 1969) e apresenta uma personagem que se tornou, ao longo dos anos, uma figura mítica, símbolo da resistência palestina. Depois da Nakba de 1948, a personagem Umm Saad passa a viver em um campo de refugiados em Beirute e acompanha a transformação de seu filho, Saad, em um fedayin — aquele que se dispõe a morrer pela liberdade de seu povo, uma espécie de guerrilheiro. Essa mãe revolucionária, semelhante pela sua grandeza à Mãe Coragem, de Brecht, e à Mãe, de Górki, expressa uma consciência política autônoma e é agente da mudança. Nesta novela, Kanafani se lança a aprender com as massas. 

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Em outras palavras, a luta de Umm Saad é a luta contra o desterro, o deslocamento, a desapropriação, a catástrofe engendrada por ideais distópicos e desmedidos; é a afirmação de pertencimento, de identidade e intimidade com a terra. Umm Saad é a tentativa mais completa de Kanafani de expressar o fulgor do momento revolucionário.

Nestas duas novelas — as duas primeiras de quatro publicações que vão compor a coleção de novelas de Kanafani na Tabla, podemos encontrar dois momentos distintos da consciência, da luta e da resistência na Palestina. Primeiro, a confusão e a tentativa de entender o que aconteceu e o que fazer diante da ocupação israelense, o começo de um sentimento de revolta que viria a se tornar, no segundo momento, um ímpeto revolucionário. É neste segundo momento que nos vemos diante da força popular organizada na luta contra as forças de opressão e em defesa da Palestina.

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Sobre o autor:

Ghassan Kanafani (1936–1972) é considerado o pioneiro da literatura de resistência palestina e influenciou muitos escritores árabes de sua época e desde então. Além de ativista político e figura central na construção da resistência palestina à ocupação israelense e ao projeto sionista, Kanafani é um grande escritor e seu talento literário confere à sua obra um caráter universal.

Sobre os tradutores:

Safa Abou-Chahla Jubran nasceu em Marjeyoun, Líbano, em 1962, chegou ao Brasil em 1982. É professora livre docente na Universidade de São Paulo, onde leciona língua árabe desde 1992. Obteve os títulos de Mestre e de Doutor em Linguística da mesma universidade.

Michel Sleiman é poeta, editor, tradutor, professor, Michel Sleiman nasceu em Santa Rosa, RS, e mora em São Paulo desde 1991, onde ensina Língua e Literatura Árabes na Universidade de São Paulo e orienta estudos de pós-graduação em Letras Estrangeiras e Tradução. 

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

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