Em “Coisa Amor”, Pedro Jucá traz contos sobre amor, sexualidade, morte e solidão 

Autor cearense Pedro Jucá, que reside em Curitiba (PR), estreia com livro de contos publicado pela Editora Urutau

Uma das maiores pré-vendas da história da editora Urutau, “Coisa Amor” (Urutau, 2022, 152 pág.), livro de estreia do escritor cearense Pedro Jucá (@pedrojuca_), é composto por contos que abordam avessos e contradições das relações humanas a partir de situações cotidianas, relacionadas sobretudo com a maternidade, o amor, a sexualidade e o desejo, o inconsciente, a morte, a memória, a loucura e a solidão. 

Ao longo dos quinze contos, Pedro Jucá explora o poder da narração para apresentar diferentes facetas de suas personagens complexas, tomando mão, para isso, de diferentes estilos de escrita. Dito e não dito transcorrem através do texto como complementares, enquanto o autor explora os limites de um enigma: onde começa e a que se conforma a experiência do que é propriamente humano? 

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“São temas que, de alguma maneira, tocam aquilo que temos de mais radicalmente humano – nos dois sentidos: tanto de extremidade, de limite, quanto de início, de raiz. Dizem um pouco da minha maneira de ver o mundo, dizem um pouco daquilo que acredito ser universal a cada um de nós”, justifica o autor. “São questões recônditas, recalcadas, afastadas para uma zona de desconhecimento quase proposital, quase autopreservativa. Os temas não deixam de ser um cutucado forte nessa parte que, muitas vezes, ninguém quer perceber que traz em si”, elabora.

O cuidado com a linguagem é nitidamente percebido em cada um dos contos, oscilando entre uma prosa mais tortuosa, quase barroca, e textos mais simples, ao rés-do-chão. Destacam-se, aqui, três histórias. Em “Passo a Passo”, conto que abre o livro com a frase “Não existe nada mais ridículo e debalde desesperado na vida do que dizer isto: não é justo”, Pedro usa da primeira pessoa para investigar a depressão de uma bailarina que, talvez de propósito, acaba se cortando com uma louça quebrada. Já em “Coisa Amor”, que dá título ao livro, o autor se aproxima do fluxo de consciência para, com linguagem técnica e racional, brincar com os limites do que entendemos por amor: trata-se de química – puro corpo –, de acaso ou de destino?

“Mas não, nada disso aconteceu. As histórias mais tristes são também as mais prosaicas, as que sequer alcançam o status de tragédia. Desprovidas de potência ficcional, nem à catarse servem […]” 

Por último, vale citar o conto “Ela”, que retrata a formação e a derrocada de um patriarca que reconhece, na esposa, o seu grande amor, tendo-a amado como a pôde amar. A narrativa, que é a mais longa da obra, constrói-se em uma prosa de ritmo fluido, simples na forma, mas elíptica no conteúdo, explorando-se ao máximo um jogo de pontos cegos que apenas uma narrativa em primeira pessoa permite desvelar.

Para Pedro, a escrita funciona como uma forma de elaborar esteticamente as próprias questões, que, de certa forma, são também questões humanas universais. Ele afirma que escreve de maneira metódica, buscando, sem abrir mão da inspiração, transformar em literatura suas visões, argumentos e sobretudo angústias diante dos fatos da vida e do mundo.

Sobre Pedro Jucá: entre Freud, Ferrante, Kundera e Hatoum

Pedro Jucá nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1989. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, atua como Procurador do Estado do Paraná. Mas vive também entre a literatura — é pós-graduado em Escrita Criativa pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e já foi contemplado por premiações como Prêmio de Literatura Unifor, Prêmio Ideal Clube de Literatura e Prêmio Off Flip de Literatura — e a psicanálise. Atualmente reside em Curitiba com seus três gatos: Willow, Hopper e Nimbus. É colunista do portal Curitiba Cult.  Em 2023, o autor passou a ser agenciado pela Agência Riff. 

Ao olhar para sua estante do passado, o autor destaca “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, e  seu “eterno preferido”, a “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera – além de Muriel Barbery, Philip Roth, Ian McEwan e, enfim, Elena Ferrante e sua Tetralogia Napolitana, que, para ele, simboliza a escrita ideal, a prosa em sua melhor forma, em sua forma definitiva. 

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