Édipo e sua senhora mamãezinha: adaptação do clássico por um equatoriano anarquista

Como seria uma adaptação do clássico grego Édipo Rei por um dramaturgo equatoriano e anarquista? Pois veja aqui!

Somos os donos da imagem
” Jocasta, em Edipo e sua senhora mamãezinha

Quando procurei uma peça de teatro do Equador, eu descobri que não conhecia nem tinha lido nenhum autor do país. Acabei encontrando um dos dramaturgos mais interessantes que conheci, e o melhor, alguém que fala de um clássico de um por uma perspectiva latina. Trata-se de Pery Andino Moscoso. Peky Andino Moscoso nasceu em 1962 em Quito mas foi registrado numa cidade da Serra central do país. Ele foi um dos mais importantes dramaturgos do Equador.

O pesquisador Alfonso Espinosa Andrade aponta que esta é uma marca do escritor: nascer em um lugar, mas civilmente, politicamente, ser de outro lugar. Isto dá a ele o seu perfil anarquista, uma vez que nasceu em conflito com o poder e com a institucionalidade.

Foto da montagem da peça por María Beatriz Vergara Arias

JOVEM IDIOTA
E eu quero que o Sr. Édipo me responda se ele teve outros tipos de experiências semelhantes. Quero dizer, ele já foi casado antes com outras mães?
ÉDIPO
Boa pergunta, mas não, com a história de que o homem só tem uma mãe, achei um pouco difícil cometer incesto com mais frequência, então posso me considero um monomagamista

Édipo e sua senhora mamãezinha (presidente que se casou com sua mãe), de 1998, vai marcar muito bem essa característica: uma versão absolutamente desbundada do personagem-chave de Sófocles na busca de tentar não falar da Grécia, mas de um Equador repleto de culpas e culpados, abusos e abusados. Ou, como diz Alfonso Espinosa, “um país de governantes violentos e crianças alimentadas com sangue.”

A peça é conhecida por buscar romper com uma característica do teatral local, excessivamente antropológico, fortemente intelectualizado e experimental. Andino não aposta na busca por identidade, mas reflete sobre a história. A própria história com H.

Na verdade, a peça é uma espécie de diálogo entre Jocasta, Édipo e o coro sobre momentos antes do momento em que Édipo fura os olhos e se entrega ao povo. Enquanto sabe que Jocasta é sua mãe, Édipo articula com ela nos bastidores de sua vida, mas também se apresenta em público como incestuoso, como em programas de televisão, propagandas. São cenas fortes, mas divertidas e ácidas.

Dramaturgo Peky Andino

Quando os reis sofrem dano, o sistema continua; quando as pessoas os machucam, o sistema está finalizado. Eu não quero uma revolução, mas uma mudança de partes para continuar com o jogo”

É esse humor corrosivo de Andino e suas imagens ácidas, fazendo referências a governos do Equador, que fazem uma obra com um tema tão antigo ter um espírito tão crítico e confrontativo. É a exploração de um teatro que retorna ao popular contemporâneo, um teatro que recorre a história dos Andes, mas também ao pós-moderno, sendo local mas consciente de sua pertença ao Ocidente e à antiga tradição do teatro.

Leia também: As 8 melhores frases de Édipo Rei, de Sófocles

Trago uma das frases mais marcantes da peça com tradução feita por mim:

“Não tema, minha vida, aqui está sua esposa, aqui está sua mamãezinha para protegê-lo, dorme no meu peito que foi tua comida ao amanhecer e tua luxúria ao meio-dia Sonhe que você é um pequeno argonauta / um mergulhador que toca flauta / um marinheiro mercante / um pirata em um navio mercante/ não se assuste/ mar de mertiolate”

Veja um pouco do processo de criação no Youtube:

E aí, ficou com vontade de ler a adaptação do clássico grego Édipo Rei por um dramaturgo equatoriano e anarquista?

Sobre o projeto:

O projeto Teatro do Mundo é um mergulho no gênero teatral em busca de dramaturgias escritas (e nem sempre publicadas) ao redor do mundo. Todos os dias eu sorteio um país, procuro uma peça dele e escrevo sobre ela. Sejam bem-vindos!

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