Clássico infanto-juvenil “O meu pé de laranja lima” revela a descoberta da dor pelo menino Zezé

O clássico infanto-juvenil “O meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos, publicado em 1968, consagrou-se como um dos livros mais vendidos, totalizando mais de 2 milhões de exemplares e mais de 150 edições. Além disso, foi traduzido para 15 idiomas e adaptado para teatro, televisão e cinema.

O livro conta a história do menino Zezé, de 5 anos, que desde cedo tem que aprender a lidar com as adversidades como a miséria e a violência doméstica. Quando o pai perde o emprego e a mãe começa a trabalhar fora, a família é obrigada a se mudar para um lugar mais humilde. Ele vive sob os cuidados das irmãs mais velhas e, durante o dia, sai para engraxar sapatos com o irmão mais velho na tentativa de trazer algum trocado para ajudar a família.
Esperto e travesso, Zezé estava sempre inventando brincadeiras e arrumando confusão, alguns até diziam que ele “tinha o diabo no sangue”, por isso, várias vezes, apanhava do pai e do irmão mais velho, Totoca. Ainda assim, causa surpresa ao aprender a ler sozinho.
Como a nova casa tinha várias árvores, cada um pode escolher uma delas. Como Zezé foi o último, ficou com o pequeno pé de laranja lima como “árvore de estimação”. Embora contrariado, aos poucos, estabelece uma “amizade” com a árvore, que dependendo do momento a chamava de Minguinho ou Xururuca. O menino passa a compartilhar com ela suas aventuras, histórias e tristezas.

O menino conhece Manuel Valadares, o Portuga, um senhor idoso, e recebe a atenção e o carinho que não tinha em casa. Com isso, cria-se um vínculo afetivo entre os dois, mas um acidente tira a vida do amigo. Fato que o entristece imensamente e faz com que ele adoeça convivendo com a dor da ausência.
Além da tristeza de perder um amigo, teve que lidar com a decepção ao saber que seu pé de laranja lima seria cortado.
É com a professora, com o tio Edmundo e com o Portuga que ele encontra o amparo e a atenção que toda criança precisa. Com sensibilidade e simplicidade, a obra chama a atenção para os casos de abusos e abandono que muitas crianças enfrentam, além da vida de dificuldades e de privação. O menino era vítima de violência física e psicológica pelo pai alcoólatra e sofria severas punições e maus tratos.

Conforme o autor, o livro é a “história de um menininho que um dia descobriu a dor”. E, de forma comovente, Zezé consegue compreender a amplitude da dor da perda: “Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo que doía o coração todinho, que a gente tinha de morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo”.
É uma obra atemporal e segue conquistando leitores, mesmo após mais de 50 anos do lançamento.

Fontes:
Iconografia da História
Uol
Imagens: internet

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