Atari, da Ilha dos Cachorros, de Wes Anderson e Greta Thumberg: O que eles têm em comum?

A ação de pessoas jovens ativismos é sempre um tema controverso. Por um lado, algumas pessoas dizem que, por não terem experiência política, tudo que elas fazem é tumultuar o debate público, tentando influenciar a sociedade a partir de conceitos confusos, inexperientes. Por outro lado, há quem veja neste engajamento justamente a fonte de transformação de uma sociedade: enquanto os mais velhos não conseguem resolver seus próprios problemas e colocam em risco novas gerações, cabe a elas – justamente à juventude – a tentativa de mostrar aos mais velhos seus erros e apontar que são elas, ou seja, as pessoas que estão chegando no mundo, com frescor, com ideias novas, sem rabos presos e sem alianças políticas escusas e viciadas, as forças motoras de transformação do mundo. Pelo menos é isso que faz crer essas duas figuras: Atari, personagem do filme a Ilha dos Cachorros, de Wes Anderson e a menina sueca Greta Thumberg, ativista do meio ambiente, premiada como personalidade do ano de 2019 pela Revista Time.

Veja um trecho do filme sobre uma menina ativista, tal como Greta, que ajuda Atari na sua busca de encontrar seu cão:

A Ilha dos Cachorros, de Wes Anderson, conta a história de Atari Kobayashi, um menino de 12 anos, morador da cidade de Megasaki, criado pelo prefeito da cidade, seu tio. O prefeito Kobayashi é de uma tradição milenar de uma família que odeia cachorros e persegue esses animais durante várias gerações. Assim que assume a prefeitura, para acabar com as pretensas doenças causadas pelos animais, o prefeito toma uma medida drástica: exila todos os cachorros para uma ilha próxima, que funciona como uma espécie de lixão da cidade, começando pelo seu cachorrinho, o fofíssimo Spots. No entanto, o menino Atari, tutor e amigo de Spots, não aceita que isso aconteça: ele constrói um pequeno avião e vai até a ilha resgatar seu amigo. Ao lado de outros cachorros, ele vai formar um grupo de animais e pessoas que querem impedir que Kobayashi mantenha essa política de segregação entre homens e bichos e resgatar a antiga relação de amizade entre eles. Em um determinado momento, a pergunta surge:

O que acontece com o melhor amigo do homem?




O filme, composto em animação, com bastante inspiração do animador japonês Hayao Miyazaki, diretor de A Viagem de Chihiro, é uma grande reflexão de como, muitas vezes, a população é manipulada por um líder populista, cujas ideias baseadas na base do medo e do pensamento de conservação de um mundo antigo, podem gerar muitos danos para a uma sociedade, tanta na saúde, quanto na própria organização social. Estas figuras populistas podem, inclusive, estar manipulando o debate público como faz Kobayashi ao impedir que o remédio que cura as doenças dos cachorros seja distribuído e ser ele, de certa forma, responsável por inventar a própria doença que atinge os animais. Assim, um menino, uma cabeça jovem, ainda frágil da manipulação e dos sentimentos adultos de preservação do medo e, principalmente, com a imaginação aflorada, é capaz de furar essas regras sociais, essas instituições e, assim, se tornar um grande ativista da causa animal, invertendo uma equação que nenhum outro político poderia inverter, afinal, quando uma criança fala, todo mundo resolve escutar.

O mesmo acontece com a menina de 16 anos, Greta Thumberg, que um dia resolveu fazer um protesto silencioso na frente do parlamento sueco: todas as sextas-feiras ela matava aula e ficava sentada, sozinha, com uma placa contra o aquecimento global que havia produzido o verão mais quente da história de seu país. Assim, ela passou a ganhar projeção, a querer ser escutada e chegou a ir ao evento mais importante do mundo sobre o clima em um barco não poluente, na tentativa de passar um recado contra a poluição produzida por carros, ônibus e aviões. O seu objetivo, como o do menino Atari é, mais do que propriamente salvar um planeta, é acusar aqueles que criam a destruição, é dizer a eles que apenas eles são responsáveis por todas as ações do mundo e que, acima de tudo, é justamente esse gesto que vai prejudicar as gerações futuras das quais esses velhos não farão parte, mas as crianças sim.




Veja um dos principais discursos de Greta Thunberg na na UNFCC, em que ela pergunta: Como se atrevem?

Toda a ideia, ao colocar Atari e Greta lado a lado é perceber como, de certa forma, o mundo real pode espelhar a arte e a ficção, assim como a ficção pode servir de motor para as transformações sociais e políticas que mais precisamos. Não à toa, grande parte dos governos populistas e autoritários têm a arte e os artistas como inimigos número um: são eles os que mais têm dificuldade de seguir as regras estapafúrdias de um mundo cada vez mais brutal. Greta e Atari: duas faces da transformação do futuro, a partir de um pensamento da criança, da modulação da imaginação como solução dos problemas. O futuro não pode ser adulto, se for, nossa destruição estará próxima: ou a gente pensa como pensam as crianças, ou seremos incapazes de qualquer pensamento.

Ficha técnica:
Direção: Wes Anderson
Elenco: Bryan CranstonLiev SchreiberEdward Nortonmais
Gêneros Animação
Nacionalidades AlemanhaEUA




Confira o trailer do filme:

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