Negócio Fechado, um romance erótico brasileiro de J. Marquesi

Autora: J. Marquesi
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Página do livro no Facebook: Série Família Vilazza

Negócio Fechado, da autora J. Marquesi, é o primeiro livro da série Família Villazza, que atualmente conta com dois volumes e tem um terceiro já sendo escrito. Em Negócio Fechado, Marina, uma jovem de 24 anos, acaba de perder o pai e se vê sem rumo. Tendo cuidado dele, que havia sofrido um AVC, pelos últimos três anos, a jovem sente o desamparo de alguém que dedicou sua vida aos outros e, agora, precisa encontrar um caminho para si mesma. Sem família, sem estudos, sem profissão e com enormes dívidas a pagar, Marina encontra uma antiga amiga da família que a oferece um emprego no hotel onde trabalha. Obrigada a deixar o sonho de ser advogada de lado pelas circunstâncias do momento que está vivendo, ela se lança neste novo emprego como camareira de um grande e luxuoso hotel na Barra da Tijuca.

 O hotel é o cenário no qual se desenrola grande parte da história, e é onde Marina acidentalmente conhece Antônio Villazza, um belo, jovem e rico homem de negócios que estava em busca de fechar um grande negócio. A partir de um segundo encontro também não planejado, Marina e Antônio sentem-se rapidamente atraídos, de modo que nasce, ali, uma relação de atração, luxúria, sexo e desejo.

Depois de 50 Tons de Cinza, romances com conteúdo sexual se tornaram uma febre mundial. Suas consumidoras – em geral, mulheres ou bem jovens, ou acima dos 40 – parecem ter encontrado neste tipo de literatura uma possibilidade de falar abertamente sobre seus interesses na temática, o que lança luz para o lugar complexo que a sexualidade ocupa na sociedade, especialmente se levadas em conta as questões de gênero. Acontece que, depois de E. L. James entrar nas casas e nas vidas de milhares de pessoas, o que observamos no cenário nacional foi uma crescente produção de literatura deste gênero, porém muitas vezes num processo de reprodução de uma realidade que não é a brasileira: falar sobre sexo e sexualidade na Inglaterra tem tons, certamente, diferentes daqueles que estes assuntos fazem aparecer no Brasil. Talvez uma das maiores qualidades do livro de Marquesi seja, exatamente, trazer o gênero para o Brasil, buscando construir personagens, cenários e circunstâncias que, de fato, têm a ver com o modo como as relações pessoais, trabalhistas e sexuais se dão em nosso país. Desta maneira, a autora não emula uma realidade estrangeira que, ainda que desperte interesse, não parece retratar de maneira fidedigna as dinâmicas sociais brasileiras no que diz respeito ao sexo e à vida em geral; pelo contrário, a escolha por ambientar o romance em duas cidades brasileiras, Curitiba e Rio de Janeiro, não é somente uma escolha de roteiro, mas uma tentativa – bem sucedida, diga-se de passagem – de fazer do livro literatura brasileira, no sentido mais completo do termo: escrito por uma brasileira, ambientado em nosso país, com personagens que não são Marks ou Tiffanys ou Johns e, principalmente, um livro que faz emergir as particularidades culturais e sociais brasileiras.

Além disso, é importante ressaltar que o livro de J. Marquesi não pretende apenas ser um livro hot, mas explorar os personagens Marina e Antônio a fundo, de modo que da relação que, num primeiro momento, é primordialmente banhada a sexo e desejo, vai se transformando em algo que vai além disso. O relacionamento suscita, em ambos, sentimentos há muito não experimentados, enchendo as páginas de reflexões – tão comuns a todos – sobre as relações afetivas. Mas vale pontuar que Marquesi, mesmo escrevendo um livro que não se detém apenas no conteúdo sexual, brilhantemente mantém o tom quente da narrativa, inserindo estratégica e competentemente momentos de tesão e sensualidade à história.

É, inclusive, no que o livro tem de hot que fica expressa a qualidade da obra de Marquesi. Diferenciando-se, novamente, da maioria dos livros do gênero, a autora traz humor e modernidade aos diálogos e à narrativa, de modo que a escrita prende e aproxima as(os) leitoras(es). Não se trata de uma escrita distante, pelo contrário, a utilização de recursos próprios das comunicações nas redes sociais demarca o que o livro tem de único, que é a capacidade de juntar sensualidade, humor e reflexões sobre as dinâmicas dos relacionamentos afetivo-sexuais de uma maneira que quem lê se sente parte da história – não só porque ela pode acontecer com qualquer pessoa e diz respeito a vivências compartilhadas por muitas(os) de nós, mas também porque o modo como ela constrói o texto nos convida, constantemente, a continuar lendo.

Finalmente, como todo bom livro, a reviravolta da trama próximo ao final da história deixa clara a habilidade e a maturidade da escrita de Marquesi. Dando o tom ideal de emoção e surpresa, o plot-twist é bem executado e condensa, nele, os eventos que culminarão no fim da história. Fim este que se apresenta como um novo começo, uma vez que a continuação da história, no livro dois, é anunciada e, certamente, desperta o desejo de saber como ela irá se desenrolar.

Marquesi, por fim, consegue com maestria construir um romance hot com profundidade, regado a bom humor e ótimas cenas de sexo e que deixa um recado claro para as(os) próximas(os) escritoras(es) do gênero: é possível – e muito desejável – que o Brasil produza romances eróticos originais, genuinamente brasileiros e de qualidade.

*Esta publicação é um publi-post.

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