Autoras: Madame de Beaumont (1756) e Madame de Villeneuve
Editora: Zahar (2017)
Tradução: André Telles
Páginas: 240
A literatura sempre tentou se debruçar sobre o que seria a essência do bem e do mal. Quase sempre a literatura entendeu que a realidade dificilmente caberia nestas ideias dicotômicas uma vez que a realidade é fruto do caos, muito embora fosse possível mapear uma energia construtiva e outra negativa. O problema disso, é que as palavras nunca se curvaram diante do mundo e, em quase todas estas obras, o que se via eram desvios de rota, caminhos tortos e formas alternativas de mostrar as moralidades (pois elas, talvez, tenham sido necessárias). A Bela e a Fera, me parece, é um sintoma essencial para entender esta questão.
A Bela e a Fera, lançamento da Editora Zahar, com duas versões clássicas das histórias, escritas por Madame de Beaumont (1756) e Madame de Villeneuve (1740), conta a história de um pai de família que, após perder sua fortuna, se encontra perdido em uma floresta. Ali ele encontra um grande castelo onde uma Fera promete tirar sua vida. Assim, ele pede um tempo para se despedir de sua família, mas é sua filha que se oferece em recompensa. Uma vez lá, a moça aos poucos começa a conhecer os meandros destas fera e começa a mostrar a ela o que seria a vida e, por fim, o verdadeiro amor.
O livro é composto pela versão de Madame de Beaumont, uma espécie de conto longo, ou novela, de acordo com as classificações sempre arbitrárias de gênero, e a versão em forma de narrativa longa, ou romance, de Madame de Villeneuve. Ambas as forças contam a mesma histórias e cabe ressaltar que ambas priorizam partes diferentes da fábula, o que torna a leitura sempre inventiva, dando voltas para cantos que não poderíamos prever.
É importante dizer que, neste caso, as duas obras foram escritas por mulheres ainda no século XVIII. Interessante também ressaltar que isto não coloca, na forma de narrar, uma classificação de gênero muito clara. Não se trata de uma narrativa feminina, nem tampouco de emulação de uma narrativa masculina, muito pelo contrário, o que se vê é um compósito forte – típico das mulheres quando assumiam as posições de escritoras – de observação de mundo e capacidade de descrição dos sentimentos não pelo que eles sentem, mas pelo que eles são como matéria.
É bacana também notar que a fábula, embora seja brutalmente mantida, é relida, como se estivéssemos quase diante de um conto oral, ou de uma história que pudesse ser transformada. E assim foi: A Bela e a Fera foram atualizadas durante séculos e séculos até chegar até nós.
A versão da Editora Zahar é mais uma vez primorosa e contém ilustrações produzidas na época, assim como um texto de apresentação bastante claro e direto nas informações necessárias para adentrarmos a obra. Uma leitura imperdível para amantes dos grandes clássicos!